quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Gerações

É inevitável que hajam conflitos entre todas as gerações. Sempre ouvi os meus avós dizerem, que a juventude de agora não presta, que são uns calões e uns maricas, que haviam de ter trabalhado como eles que iam ver o que era bom para a tosse. Os professores na escola dizem todos os anos, a alunos diferentes, que aqueles são os piores alunos que eles já tiveram e que antigamente é que eram bons, mas antigamente diziam o mesmo. Há dias encontrei na rua um funcionário da minha antiga escola secundária, e perguntei-lhe como estavam as coisas por lá: "Oh nem queiras saber, são todos uns vândalos, estes miúdos de agora não têm respeito nenhum! Não se comparam a vocês quando lá estavam, vocês eram uns anjos". Mas quando eu lá estava fartei-me de ouvir que éramos umas pestes.
Estava a ler este artigo sobre a minha geração, e lembrei-me de uma conversa que tive no outro dia, em que duas pessoas na casa dos 60 anos diziam não perceber os jovens de hoje, que preferem comprar móveis no Ikea, que não prestam para nada, do que investir em coisas boas. Eu acho sinceramente que as prioridades mudaram. Que os jovens bem adaptados de hoje, não se preocupam tanto com coisas materiais, preferem gastar o pouco que têm a absorver cultura, a viajar, a desfrutar a vida. E que para além disso não há dinheiro. Claro que toda a gente gosta de coisas boas, mas essas coisas normalmente são caras, e escolher entre um móvel que custe 1000€ ou um que custe 500€ e se tivermos oportunidade, com os outros 500€ fazermos uma viagem... Acho que aprendemos a ser felizes com menos dinheiro. Somos a geração das viagens lowcost, dos festivais de verão, das férias de verão a acampar com os amigos. Claro que há muita gente da minha geração que não quer fazer nada da vida, claro que há muita gente de 20 anos que parece que nasceu em 1840, que não se consegue adaptar, que não luta por melhores oportunidades. É o que não falta. Mas apesar de tudo, noto que é na geração dos nossos pais que há maiores dificuldades na adaptação à crise. Os nossos avós cresceram e viveram grande parte da vida com pouco. Quando os nossos pais nasceram, não havia muito, mas eram eles jovens quando Portugal passou pelos áureos anos 80 e 90. Quando os meus pais me tiveram, não havia crise. A minha geração tem filhos sem saber se amanhã vai ter trabalho, e é preciso estofo para isto.
Nenhuma geração é perfeita. Em todo o lado, seja em que século, classe social, ou o que quer que seja, há gente forte e gente fraca. Pessoas são pessoas, seja em 2013 seja em 1280. As mentalidades mudam, as prioridades mudam. O Mundo vai evoluindo mas nós somos pessoas, quando nascemos somos todos iguais. E eu pergunto-me muitas vezes, se essas pessoas que dizem que a minha geração não presta, já pensaram alguma vez, que foi a geração deles que nos educou e nos fez assim.


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